31.12.08

Quero voar...

Na superfície do azul brilhante do céu, tentando a custo manter as asas numa dolorosa curva, Fernão Capelo Gaivota levanta o bico a trinta metros de altura. E voa. Voar é muito importante, tão ou mais importante que viver, que comer, pelo menos para Fernão, uma gaivota que pensa e sente o sabor do infinito. E verdade, que é raro pensar diferentemente do resto do bando, passar dias inteiros só voando, só aprendendo a voar, longe do comum dos mortais, estes que se contentam com o que são, na pobreza das limitações. Fernão é diferente, evoluir é necessário, a vida é o desconhecido e o incognoscível. Afinal uma gaivota que se preze tem de sentir o brilho das estrelas, dissecar de perto o paraíso, respirar ares mais leves e mais afáveis. Viver é conquistar, não limitar o ilimitável. Haverá sempre o que aprender. Sempre.
Olhar de frente, alcançar a perfeição, gostar muito, muitíssimo, do que se faz, eis o segredo de Fernão Capelo Gaivota.

Lá porque existem gaivotas que não pensam os mesmos pensamentos, que não discorrem o mesmo raciocínio, não é problema para Fernão. Mesmo sendo apenas um num milhão, mesmo tendo de percorrer um caminho quase infinito, Fernão sabe que na vida há algo mais do que comer, ter status, ser amado ou criticado: viver é lutar. Uma, cem, mil vidas, dez mil! Até chegar à perfeição, à vitória da eterna aprendizagem, porque nenhum número é limite.
A ninguém é permitido deixar de aprender e querer mais!

Passa o tempo, passam os lugares, passam ou não passam os semelhantes, Fernão Capelo Gaivota vai em frente, voa, aprende, treina, paira sobre o comum do comum viver. O destino é o infinito, o caminho é lá nas alturas! Tudo espontâneo, natural, pois quem se ilumina cumpre a missão da luz, que vale para si e para todas as criaturas. A grande maravilha do amor é o seu profundo contágio. O que vale para Fernão valerá para todas as gaivotas.

O sentimento é o santuário e a sua paz reflecte e flúi incessante. A fé testemunhada no esforço evolutivo é a bênção de dádivas de amor. Ela aclara e edifica e melhorando-se, melhora os que lhe percebem a trajectória.
Neste ano novo vamos voar! Voar bem alto, mesmo que o céu esteja repleto de abutres, vamos voar?

23.6.08

A Wish

A Wish

Please don't be scared
I won't dissapoint you
Just look at my face

I shouldn't love you anyway

I wanna try it
I think I'm already trying

I'm already trying
Because I believe it
Yes I believe it
And I am trying...

Please keep fighting
Keep fighting...
Together we can build something beautiful

Please keep fighting
Together we'll build love...

I can't live without you
Could I ever learn how to live with you?
Cause I believe it
Yes I believe it
And I am trying...

Please keep fighting
Keep fighting
Together we can build something beautiful

Please keep fighting
Together we'll build love...
Please keep fighting

Keep fighting
Together we can build something beautiful
Please keep fighting
Keep fighting...
I won't give up on you...
Please keep fighting

Together we'll build love...

Don't you give up now on me
I won't give up on you...

23.5.08

Discurso de abertura Fórum das Profissões

I Fórum das Profissões
Auditório do Ramo Grande, Praia da Vitória

"Antes de mais, quero saudar todos os alunos aqui presentes. E saudo-vos pela vossa escolha... a escolha de frequentar uma escola profissional...


Sr. Director Regional do Trabalho, Dr. Rui Bettencourt. Sr. Director da Escola, Professor Domingos Borges... Sr. Presidente da CMPV, Dr. Roberto Monteiro....


Tinha eu 15 anos quando decidi fazer as provas para entrar na Escola Profissional. Não tive muitas dúvidas... estava decidida a dar um rumo à minha vida de estudante e queria preparar o meu futuro (até porque nem pensava em ir para a Universidade...)
Foi há nove anos atrás. Numa altura em que os alunos das escolas profissionais tinham um rótulo... um carimbo... e muitas vezes injustamente!A familia e os amigos não gostaram muito da ideia. Mas mesmo assim tentei.


Entrei no curso que queria. Na altura já se começava a falar muito em Multimédia...de repente comecei a ter motivações para estudar... para ir para as aulas... as notas começaram a subir... os objectivos eram cada vez maiores... o sentido de responsabilidade cresceu. (até hoje não sei como consegui acordar às 6 da manhã durante 3 anos!)
A relação com os colegas, com os professores, com os funcionários... era uma relacção boa, saudável... éramos quase uma família, da qual sinto saudades!


Nesta escola aprendi a ser e a fazer... aprendi a gostar de saber mais... a traçar objectivos... a fazer opções...Aos 18 anos... altura em que fui estagiar para o jornal “Correio dos Açores”, em Ponta Delgada... ainda não tinha acabado o curso, mas sentia-me perfeitamente capaz de desempenhar uma função... uma profissão.
Terminei o curso em Junho de 2003... altura em que entreguei a PAP... a famosa PAP (mas que afinal não custa assim tanto a fazer!)... nessa altura já trabalhava numa empresa de webdesign e informática... juntamente com outros dois colegas de curso.


Em Março de 2004, a escola contactou-me para participar no Concurso Regional de Profissoes, em São Miguel... eu disse logo que sim... porque ia ser uma óptima experiência... e foi!Senti um orgulho enorme quando conquistei o primeiro lugar na categoria de webdesign: orgulho pelo facto de levar mais longe o nome da escola... orgulho em mim mesma... porque fiz a escolha certa e dei o meu melhor.


Fiquei apurada para o campeonato nacional... e em Novembro fui para Aveiro... quando já estava no 1º ano da Universidade, em Ponta Delgada.
No Nacional competi contra 6 concorrentes (fui sempre a única rapariga... os meus adversários eram sempre rapazes... e viva as mulheres...)Fiquei novamente em 1º lugar... nesse ano os Açores ganharam 11 medalhas de ouro (salvo erro)... o que significa que as escolas da região são boas e funcionam! Foi um orgulho... é uma sensação espectacular receber estes prémios.Eu e o Paulo Paiva, de Construção Civil, éramos os únicos da escola da Praia, e vencemos.


Fiquei apurada para o Internacional... e em Maio de 2005 fui para a Finlândia...Foi uma experiência fantástica... uma oportunidade única. Estava numa competição mundial a representar Portugal, os Açores e, sobretudo, a minha Escola (e era novamente a única rapariga!).Tinha quase que uma obrigação em conquistar o terceiro lugar... porque o Rui Veríssimo, um colega da Escola das Capelas, tinha ganho a medalha de bronze em Webdesign... foi um dos melhores resultados de sempre de Portugal.
Competi ao lado de 17 jovens de vários países... a prova era dificil... fiquei em 14º lugar... mas valeu a pena! E acredito que alguns de vocês vão poder conquistar um lugar melhor que o meu. Basta quererem... basta trabalharem!


Enfim,

Enfrentei tudo e todos para entrar aqui...Fiz o meu curso... fui reconhecida pelo meu bom trabalho. Hoje a minha família e os meus amigos orgulham-se desta escolha que fiz e que antes criticaram!Defendi sempre que pude os cursos profissionais! E ainda bem que hoje... as escolas têm uma imagem mais bonita...
Daqui a um mês termino a minha licenciatura em Comunicação Social e Cultura... estou a acabar o meu estágio... e acreditem que se não tivesse tirado um curso técnico profissional não sabia metade do que sei hoje... Se calhar não me adaptava tão bem às novas situações... às novas tecnologias.. ou não aceitava com tanta garra os desafios que vou encontrando... o meu curso foi a minha rampa de lançamento para um degrau mais acima...


Aproveito para agradecer a todos os que me deram este saber... professor Fernando Vicente... Fernando Nascimento... e outros tão importantes... Obrigada à escola por dar esta boa oportunidade a tantos jovens.E obrigada a todos os que apoiam as escolas profissionais, os alunos e as suas iniciativas! Espero que hoje as empresas de cá saibam dar valor a estes alunos com formação... que lhes dêm o devido lugar... afinal de contas, nós também podemos trabalhar por uma sociedade melhor e mais desenvolvida!


Para vocês... um conselho...

Agarrem esta oportunidade... aproveitem tudo aquilo que a escola tem para vos dar... para vos ensinar...Sejam dedicados... trabalhadores... lutadores... e sejam, sobretudo, ambiciosos em termos profissionais!Não tenham medo de aprender nem de estudar... nem de querer saber mais...
Aprendam a ser... a saber... e a fazer... que é afinal o lema destas Escolas...

Orgulhem-se por serem alunos dos técnico profissionais... orgulhem-se por terem feito a escolha certa... mas trabalhem e vejam lá se conseguem mais umas medalhinhas de ouro para os Açores!

Felicidades! Obrigada

Dulce Teixeira, Praia da Vitória, 21 de Maio de 2008"

9.5.08

Momentos...

Está a chegar ao fim...
Este foi um momento bonito.

Curiosidades da língua...

Alevantar
O acto de levantar com convicção, com o ar de 'a mim ninguém me come por parvo!... alevantei-me e fui-me embora!'.

Aspergic
Medicamento português que mistura Aspegic com Aspirina.

Assentar
O acto de sentar, só que com muita força, como fosse um tijolo a cair no cimento.

Capom
Porta de motor de carros que quando se fecha faz POM!

Destrocar
Trocar várias vezes a mesma nota até ficarmos com a mesma.

Disvorciada
Mulher que se diz por aí que se vai divorciar.

É assim...
Talvez a maior evolução da língua portuguesa. Termo que não quer dizer nada e não serve para nada. Deve ser colocado no início de qualquer frase.

Muito utilizado por jornalistas e intelectuais.

Entropeçar
Tropeçar duas vezes seguidas.

Êros
Moeda alternativa ao Euro, adoptada por alguns portugueses.

Falastes, dissestes...
Articulação na 4ª pessoa do singular. Ex.: eu falei, tu falaste, ele falou, TU FALASTES.

Fracturação
O resultado da soma do consumo de clientes em qualquer casa comercial. Casa que não fractura... não predura.

Inclusiver
Forma de expressar que percebemos de um assunto. E digo mais: eu inclusiver acho esta palavra muita gira.
Também existe a variante 'Inclusivel'.

Númaro
Já está na Assembleia da República uma proposta de lei para se deixar de utilizar a palavra NÚMERO, a qual está em claro desuso.

Por mim, acho um bom númaro!

Parteleira
Local ideal para guardar os livros de Protuguês do tempo da escola.

Perssunal
O contrário de amador. Muito utilizado por jogadores de futebol. Ex.: 'Sou perssunal de futebol'.

Dica: deve ser articulada de forma rápida.

Pitaxio
Aperitivo da classe do 'mindoím'.

Prontus
Usar o mais possível. É só dar vontade e podemos sempre soltar um 'prontus'! Fica sempre bem.

Prutugal
País ao lado da Espanha. Não é a Francia.

Quaise
Também é uma palavra muito apreciada pelos nosso pseudo-intelectuais. Ainda não percebi muito bem o quer dizer, mas o problema deve ser meu.

Stander
Local de venda. A forma mais famosa é, sem dúvida, o 'stander' de automóveis. O 'stander' é um dos grandes clássicos do 'português da cromagem'...

Tipo
Juntamente com o 'É assim', faz parte das grandes evoluções da língua portuguesa. Também sem querer dizer nada, e não servindo para nada, pode ser usado quando se quiser, porque nunca está errado, nem certo. É assim... tipo, tás a ver?

Treuze
Palavras para quê? Todos nós conhecemos o númaro treuze.

3.4.08

Porque é que os cães mordem as pessoas...



Não sou daquele tipo de pessoas que abre todo e qualquer e-mail. Normalmente apago os que têm o FW e títulos que me parecem relacionados com humor.


Mas... lá de vez em quando, lembro-me de abri-los. E ainda bem! Porque consigo dar umas
gargalhadas com alguns.

Este foi um exemplo.


Era um e-mail com o título: "PORQUE É QUE OS CÃES MORDEM AS P
ESSOAS???!!!"...


E pronto... achei piada. E percebi que há realmente gente que não tem o que fazer, tem muito tempo livre, e dinheiro para gastar com coisas tão tão supérfluas...


Pobres animais. Estou convosco!


26.2.08

A vida segundo Chaplin...


Já perdoei erros quase imperdoáveis
Tentei substituir pessoas insubstituíveis
E esquecer pessoas inesquecíveis.

Já fiz coisas por impulso,
Já me decepcionei com pessoas
Quando nunca pensei me decepcionar
Mas também decepcionei alguém.

Já abracei para proteger,
Já sorri quando não podia,

Fiz amigos eternos,
Amei e fui amado,

Mas também já fui rejeitado,
Fui amado e não amei.

Já gritei e pulei de tanta felicidade,
Já vivi de amor e fiz juras eternas,
"Quebrei a cara" muitas vezes!

Já chorei a ouvir música e a ver fotografias,
Já liguei só para escutar uma voz,
Me apaixonei por um sorriso,

Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
E tive medo de perder alguém especial (e acabei perdendo).

Mas vivi! E ainda vivo!
E você também não deveria passar.
Viva!!!
Bom mesmo é ir a luta com determinação,
Abraçar a vida e viver com paixão,
Perder com classe e vencer com ousadia,
Porque o mundo pertence a quem se atreve
E a vida é MUITO para ser insignificante.

Charles Chaplin
(pode parecer um "lugar-comum" colocar isto aqui... mas é realmente bonito...)

21.1.08

ÁRVORE HORNBEAM (O Bom Gosto)

Bem, agora já faço parte desta "corrente".... Recebi um e-mail com as descrições das árvores e os seus significados, relacionados com o nosso aniversário (pelos vistos relacionado com a mitologia celta, salvo erro!)... Parece que o 13 de Junho gosta da Hornbeam...


Aqui vai a descrição, da qual concordo em algumas coisas.


"De uma beleza muito franca, preocupa-se pela sua aparência e sua condição económica. Tem bom gosto, não é egoísta e vive de forma mais cómoda possível, de maneira razoável e disciplinada. Busca bondade e conhecimento num parceiro emotivo; sonha com amantes incomuns... Aos poucos é feliz com os seus sentimentos, mas desconfia da maioria das pessoas e nunca está segura das suas decisões. É muito consciente."

Maddie: exemplo de um choro planetário

O “caso Maddie” é de facto o mais mediático dos últimos tempos em Portugal e quiçá no resto do mundo.
Desde Maio de 2007 que muita tinta rola sobre o desaparecimento de uma menina de três anos na Praia da Luz, no Algarve. Rapto? Assassinato? Neglicência? Seja o que for, o que é certo é que desde esse dia a imprensa não largou o caso e o mundo chorou pela menina inglesa.
A complexidade deste caso quase que nos obriga a uma análise por níveis. Primeiro, o boom na imprensa, a seguir as hipóteses. Depois, apontam-se possíveis culpados e, posteriormente, os pais. A análise também poderá ser feita a nível dos procedimentos da polícia portuguesa e do “tratado” de cooperação entre as polícias portuguesa e inglesa. Seguem-se os estereotipos em relação ao desempenho dos MacCan enquanto pais e a permanência nas capas de revistas e jornais ao fim de sete meses.

Maddie na Imprensa

A presença de Maddie na imprensa portuguesa compara-se aos relatos sobre a morte da Princesa Diana na imprensa Britânica. De facto, nenhum outro caso foi tão consecutivamente seguido pelos jornais e pelas revistas como o de Madeleine MacCann – até porque a imprensa foi avisada primeiro do seu desaparecimento do que a própria polícia.
Desde 4 de Maio que diariamente sai um artigo sobre este desaparecimento, por mais pequeno que seja. O que leva a imprensa a esmioçar este caso até ao mais insignificante pormenor? Está de facto provado que os Homens são voyeurs naturais; no entanto, tal voyeurismo nunca pareceu tão apurado em outros casos de desaparecimento.
Na página de internet da Polícia Judiciária podemos aceder a uma lista de pessoas que desapareceram em Portugal (http://www.policiajudiciaria.pt/htm/pessoas.htm): crianças, adolescentes, idosos, imigrantes. Por mais que os seus familiares ansiassem por isso, nenhum destes “desaparecidos” mereceu a cobertura mediática que Maddie teve. A imprensa e a polícia portuguesa fez com esta menina o que nunca antes fez com outra pessoa.
Um dos casos que alcançou os média foi o de Rui Pedro. A mãe deste menino de 9 anos que desapareceu em 1998 conseguiu a atenção das câmaras por meia dúzia de vezes e invadiu os correios electrónicos com a imagem do filho, na esperança que “a janela aberta para o mundo” a ajudasse nas buscas. Entretanto, já passaram dez anos e nada de novo aconteceu, nem a imprensa ou a polícia se preocupou mais com o caso, excepto quando há cerca de três anos surgiram imagens pornográficas onde Rui Pedro terá sido identificado. Madeleine desapareceu em Maio e quase oito meses depois ainda surge nas capas dos diários e das revistas.

Primeira hipótese: rapto. Segunda hipótese: assassinada pelos próprios pais.

Depois do caso vir a público começaram a ser colocadas várias hipóteses sobre o que havia realmente acontecido. A primeira hipótese foi a de rapto; enquanto os pais jantavam com outro casal amigo num restaurante do condomínio, a apenas alguns metros da casa onde Maddie e os irmãos gémeos dormiam, sozinhos, a criança desapareceu.
A 15 de Maio Robert Murat, um cidadão britânico que morava nas proximidades do complexo hoteleiro, foi considerado suspeito. Depois de muitas horas de perguntas e respostas, Murat foi libertado de qualquer suspeita.
Começam a surgir novas hipóteses e o mínimo movimento suspeito dos pais era crucial para se tornarem culpados. Terão provavelmente sido as palavras de Kate numa das suas aparições ao público que os “denunciaram”: numa das suas “conferências” Kate referiu que a sua reacção ao ver que Maddie não estava na casa foi gritar “Eles levaram-na!”. Ora, eles quem?
O casal foi constituído arguido no caso e as culpas caem sobre Kate e Gerry. As hipóteses que surgiram a partir daqui foram as mais macabras e outras chegaram mesmo a ser ridículas. No entanto, em qualquer uma delas o casal é culpado pela morte da filha. As hipóteses são muitas: poderá ter sido um ajuste de contas de algum inimigo do casal; poderá ter sido Kate que num ataque de fúria bateu com tanta violência na criança que a terá morto. Também o facto de serem médicos levantou a suspeita de que teriam dado uma dose excessiva de calmantes a Maddie para que ficasse a dormir no quarto com os irmãos enquanto os pais jantavam despreocupados.
Depois das análises feitas ao ADN encontrado na viatura do casal MacCann, e do odor a cadáver que demonstrou ter cheirado os cães “pisteiros”, os pais foram acusados de terem transportado o corpo da filha e de o terem escondido ou queimado num dos fornos ou incineradoras da zona.
A seguir, e de novo por causa do ADN, Madeleine poderia não ser filha de Gerry, razão pela qual o médico inglês poderia ter matado a criança. Depois disto os MacCann vieram novamente a público dizer que tinham recorrido a inseminação artificial porque Kate não conseguia satisfazer naturalmente o seu desejo de ser mãe.
Os ânimos acalmaram mas as dúvidas continuam. São muitas as hipóteses e poucos os suspeitos.

Estereotipos sobre os MacCann

A partir daqui um torbilhão de desconfianças arruinou qualquer imagem de pais em sofrimento que até então Kate e Gerry tinham passado. De repente, o “mundo” virou-se contra o casal inglês “loiro e rico” que sustentava o turismo algarvio. Por terra ficaram os balões lançados para Maddie, as fitas da esperança que enfeitavam os pulsos da família, o ursinho que a mãe transportava, a “fundação” e o dinheiro revertido a favor das buscas e até mesmo a viagem ao encontro de Sua Santidade, o Papa. Ou mesmo os possíveis contractos com a Google para colocar a imagem dos olhos da menina dentro dos dois ‘o’ do motor de busca, ou o acordo com J K Rowling para que a imagem dos separadores do último livro da saga de “Harry Potter” fosse a cara de Maddie.
Kate passou de mãe em sofrimento para “Medeia” não traída. Gerry deixou de ser o pai calmo e racional para ser o pai frio e possível assassino. O casal tudo fez para que a imagem não arruínasse as investigações. As lágrimas que há muito tantos exigiam de Kate, a mãe culpada, vieram-lhe finalmente aos olhos, em público. Também surgiram críticas ao modelo de educação que o casal transmitia; como era possível que tivessem deixado as crianças sozinhas?, principalmente Kate – uma mãe jamais deixaria um filho sozinho.
Portugal começou a “odiar” o casal inglês. O povo sentiu-se traído e ficou abalado com tais suspeitas. Era chegada a hora dos MacCann abandonarem o povo “enraivecido” e voltarem a casa, para serem recebidos de forma mais compreensiva.

O trabalho da polícia

Nunca os portugueses viram a polícia tão empenhada em resolver um caso de desaparecimento. Durante mais de um mês efectuaram buscas quase diárias na Praia da Luz, definiram um perímetro de buscas e até o ultrapassaram, esboçaram desenhos de um suspeito; fizeram tudo o que até então nunca tinham feito por um Rui Pedro ou por uma Rita.
Porquê Maddie? Porquê uma menina estrangeira e nunca uma portuguesa? A polícia portuguesa até se sujeitou a ordens da polícia britânica e “vinculou” um acordo de cooperação. Detectives, agentes, inspectores, juntos no mesmo caso, pela vida de Maddie, pela busca de uma verdade.
Ao mais comum português esta procura desenfreada poderá ter passado ao lado mas terá revoltado muitos outros portugueses. Terá tido a polícia portuguesa necessidade de se afirmar ou de fazer com que reparassem no seu trabalho? Precisavam de uma oportunidade para mostrarem do que eram capazes? O facto é que a polícia se entregou a este caso mais do que em qualquer outro (provavelmente) em toda a sua história.

Maddie: o choro planetário

Em A Tirania da comunicação, Ignacio Ramonet fala do “choro planetário”. Na obra o autor refere-se à morte da Princesa Diana que abalou o mundo e sustentou a imprensa mundial durante algum tempo. Tudo foi aproveitado para colar nas páginas dos jornais e das revistas; as fotografias do acidente enriqueceram os paparazzi, que ironicamente poderiam ter sido a causa da sua morte.
Ramonet fala em “psicodrama planetário”, “choque mediático total” ou “globalização emocional”, “o que é indiscutível é que vivemos, então, um acontecimento mediático” que iniciou a era da informação global.
O povo português chorou o desaparecimento de Maddie. Durante meses a imagem da menina loira entrou pelas nossas casas e a comunicação social quase nos obrigava a a seguir a história e a “embalar” a pequena Madeleine.
Nos primeiros dias do mês em que Maddie desapareceu todas as notícias eram realmente do interesse de todos os leitores, ouvintes e telespectadores. Depois da estagnação de dados e de informação, entrou-se numa rotina mediática. Os jornalistas começaram a informar sobre a informação, a reciclar notícias, tudo porque não havia nada de novo ou que chocasse novamente o povo adormecido.
O desaparecimento de Madeleine foi um dos maiores, ou senão o maior fenómeno mediático em Portugal. Num país onde quase só os políticos são notícia, de repente a criança inglesa passou a estar em todas as capas. Ficam muitas “mágoas” no ar, muitas dúvidas e suspeitas, muitos medos e desconfianças. Até ao caso não estar resolvido, os MacCann vão continuar a ser culpados pela morte da filha e as diferenças entre loiros e ricos e rudes populares (como dizia José Pacheco Pereira) serão cada vez mais acentuadas, por muito que a polícia se esforce por colmatá-las.
Para trás ficaram litros de tinta e horas de gravações. Agora espera-se que apareçam respostas e que termine a “tortura” do 3 de Maio. Para trás ficaram também tantas outras crianças que não mereceram a atenção dos média; não talvez por serem rudes nos seus modos, mas porque alguém não se lembrou de avisar a comunicação social antes da polícia.


Bibliografia
RAMONET, Ignacio, A Tirania da Comunicação, Campo das Letras – Editores, S.A., 1999.

(Trabalho escrito no âmbito da disciplina de Discurso e Ideologia; curso de Licenciatura em Comunicação Social e Cultura; 4º ano, 1º semestre)