Rui Veloso e Kátia Guerreiro nos 95 anos do BCA
Acompanhados pela Orquestra Clássica da Madeira, Rui Veloso e Kátia Guerreiro encheram de música o Coliseu Micaelense, no passado domingo. Na comemoração do seu 95º aniversário, o Banco Comercial dos Açores (BCA) ofereceu a um vasto leque de convidados um serão musical.
“O nosso banco”, lema pelo qual se fez notar entre os açorianos, convidou dois dos grandes nomes da música portuguesa contemporânea. Por volta das 20h30 a plateia do grande anfiteatro de Ponta Delgada começou a encher. Vestidos a rigor para a celebração, os convidados foram procurando os lugares que lhes eram destinados.
O pano estava subido e aproximava-se o início de um serão comemorativo, que se prolongou até cerca das 11 horas da noite. Já em palco, a apresentadora fez as honras da casa, dando os parabéns à instituição e apresentando oradores e convidados musicais.
O comendador (nome) subiu ao palco em primeiro lugar e proferiu um discurso onde relembrava ao público o começo daquele que seria o Banco dos Açores. Das ideias aos actos, dos primeiros depósitos à mudança de nome, (nome), por entre golos de água e alguns engasgos saudáveis de nervosismo, embalou os convidados numa breve história, bastante aplaudida no final.
Finalizada a palestra, começaram a entrar os músicos da Orquestra Clássica da Madeira, que ordenadamente ocuparam os lugares nas cadeiras já dispostas antes de começar o espectáculo. Pouco depois, sobe ao palanque Rui Massena, o Maestro. Um jovem alto, com ar bem descontraído e cuja aparência não fugiu à regra: fraque, cabelo um tanto ou quanto despenteado e de batuta em punho.
Durante alguns segundos, e de forma ordenada, os naipes de músicos foram afinando os seus instrumentos, porque o calor e a humidade assim o obrigam. O maestro ergueu a batuta e a orquestra começou. Um meddley com sons e ritmos fortes ecoou na sala um misto de Chicago e cabaré que encheu de risos, espantos e aplausos a plateia e as bancadas do Coliseu Micaelense.
Kátia Guerreiro, um dos grandes e recentes nomes do fado em Portugal e no estrangeiro, foi chamada ao palco. Vinha de vestido comprido, negro e vermelho, de saia rodada bordada com lantejoulas pretas que brilhavam com a luz que dançava sobre ela. Uma voz límpida e estridente deambulou por entre os convidados, recebendo “bravos” e “ah fadistas”. Numa meia hora, a fadista e os tocadores que a acompanharam sentados ao seu lado esquerdo, ofereceram ao público boa música em oito faixas escolhidas a rigor.
Por entre os trilhados da guitarra portuguesa e o compasse dos violões, ouviam-se violinos e flautas, trompetes e clarinetes; uma completa harmonia musical entre fado e orquestra que se percebia pelos sorrisos de cumplicidade entre Kátia e Rui Massena.
Aplausos finais e um curto intervalo, durante o qual os convidados passearam pelas salas de entrada e pelos corredores, mimados com champanhe e chocolates que lhes serviram as hospedeiras. Por entre o burburinho trocavam-se impressões, ora acerca da organização do evento, ora sobre espectáculo ao qual acabavam de assistir ora sobre o BCA e a sua história. Os assuntos eram diversos.
As luzes baixaram de intensidade. Aproximava-se o início da segunda parte do espectáculo. Os convidados reentraram na sala para ouvir Rui Veloso, acompanhado pela sua banda e pela orquestra, que, por sua vez, animou todo o espectáculo.
Com uma aparência um pouco mais formal que o habitual, Rui Veloso entrou em palco, não com muitos sorrisos, como de resto lhe é característico, de fato cinzento-escuro e com um andar ritmado e sereno. Em cena estavam a orquestra e o seu grupo de três vozes, um baixo, uma guitarra, bateria, percussão e o tão característico piano.
“A gente não lê”, faixa que ficou conhecida do grande público depois do lançamento do CD acústico, foi a primeira música e que quase aqueceu o público. Seguiram-se outras oito (nove músicas no total), umas mais conhecidas, como “Porto Covo” ou “Não há estrelas no céu”; outras do seu recente trabalho editado, “Espuma das Canções”, como por exemplo “Canção de Alterne”. Durante todas elas se conseguia ouvir o burburinho de algumas vozes da plateia que cantavam quase em silêncio.
Os arranjos musicais da orquestra foram da responsabilidade do maestro; os mesmos foram aplaudidos pelo artista, e valeram um aperto de mão visivelmente sincero. Duas das músicas demarcaram-se pelas entradas dadas pelos solos da flauta transversal, no “Bairro do Oriente”, e do clarinete na música “Não há estrelas no céu”.
No final, Rui Veloso chamou Kátia Guerreiro para consigo cantar uma música escrita e composta por ele, que falava sobre a ilha de São Miguel. Depois, continuaram com um sorridente e divertido “Chico Fininho” e uma intensa “Veia do Poeta”.
Vieram as flores, os aplausos e o final do espectáculo. Seguiram-se os agradecimentos e uma pequena homenagem da fadista ao público: sem acompanhamento musical, Kátia Guerreiro cantou e encantou a todos com uma “Chamateia” bem à moda açoriana, quando já alguns convidados se dirigiam para a saída (e ficaram mesmo no corredor para ouvir o momento).
Já passava das onze quando todos saíram ordenadamente, uns mais apressados que outros. À saída foram presenteados com uma capa, oferecida pelo Banco Comercial dos Açores, que no interior continha uma cópia do primeiro contrato feito pelos accionistas fundadores, bem como uma cópia de um recorte do jornal que noticiava, em
Berta Cabral, a presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, acompanhada pelo seu marido, foi a última a deixar a sala, cumprimentando os convidados e dando os parabéns a organização.
As portas do Coliseu Micaelense fecharam. Lá dentro permaneceram alguns, encarregues de desmontar o material. Cá fora, os músicos da Orquestra Clássica da Madeira recebiam alguns “parabéns” e apertos de mão.