24.4.07

OVGA - “O respirar (d)as Ilhas”

Criado em 2002, o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores nasce de uma vontade comum dos amantes da natureza das Ilhas açorianas. O projecto tem como principais objectivos a pesquisa e a divulgação da ciência, bem como “o exercício e a promoção de actividades no campo da Vulcanologia, da Sismologia, da Geotermia e do Ambiente”. Sem fins lucrativos, o espaço foi criado, sobretudo, por professores da Universidade dos Açores e neste momento conta com cerca de 400 sócios.

A funcionar no Concelho de Lagoa, na Ilha de São Miguel, o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores desfruta dos mais variados meios técnicos e humanos para a execução das práticas relacionadas com a sismicidade e vulcanologia do Arquipélago dos Açores.

Num edifício criado à medida dos objectivos propostos, podem encontrar-se várias divisões que nos guiam numa viagem alucinante pelo interior das Ilhas: desde o bar decorado com um “tríptico” que recorda a história geológica dos Açores, passando pela sala onde estão expostos os aparelhos de captação das várias ocorrências a nível da gravidade, magnetismo, sismicidade e deformação da terra, a visita é abrilhantada pelo magnífico corredor de lava que conduz à sala onde se encontra a exposição “Minerais da Vida” e a secção de fósseis, bem como uma parede ilustrada por quadros de vários autores, que contam a história vulcanológica do Arquipélago.


O Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores é composto pela Assembleia Geral, presidida por António Serralheiro, Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Lisboa, pela Direcção, presidida por Vítor Hugo Forjaz, pelo Conselho Fiscal, presidido por Francisco Menezes Rocha, e pelo Conselho Cientifico, do qual fazem parte inúmeros professores das Universidades dos Açores, de Aveiro, de Lisboa, e da Suiça.

“O desenvolvimento de programas e de projectos científicos, técnicos e de divulgação”, “o apoio técnico e científico às entidades”, “a montagem de infra-estruturas tecnológicas e científicas adequadas à comunidade açoriana”, e “a promoção de iniciativas orientadas para o debate conclusivo sobre experiências e inovações”, são as principais atribuições do OVGA para consecução do seu objectivo (Artgº 2º dos Estatutos registados em 10.06.2002, Objectivos do OVGA).

Este observatório dispõe de uma pagina na Internet, http://www.ovga-azores.org, onde dispõe de variadas informações acerca do próprio observatório, bem como das varias ocorrências sísmicas e vulcânicas no Arquipélago dos Açores.

O OVGA não é apenas um espaço de exposição, é também um local de discussão de novas ideias, de mostras de experiências e de divulgação científica. Os amantes da geodiversidade açoriana podem, aqui, respirar as Ilhas.


Os valores da terra

Numa sala pintada a cores vivas e que relembram a geodiversidade açoriana, e ainda incompleta a nível de exposição de materiais, encontram-se os vários aparelhos responsáveis pela medição dos valores da terra.

O sismógrafo, o magnetómetro, o gravímetro, o extensometro e o maregrafo, estão expostos numa divisão de vidro, e são eles que, vinte e quatro horas por dia, marcam as batidas e o respirar das Ilhas.

Enquanto que o gravímetro mede a gravidade das Ilhas, o extensometro e o maregrafo servem exactamente para medir as deformações que a terra e o mar, respectivamente, sofrem ao longo dos tempos, ao compasso das ocorrências sísmicas.

O sismógrafo, que deriva das palavras gregas seismis (sismo ou terramoto) e grafo, grafia (registo, escrita), regista o sismograma – registo visual dos sismos que se capta através das ondas (P e S). Este aparelho serve para registar as vibrações do solo e, actualmente, com a evolução tecnológica a que foi sujeito, este aparelho é tão sensível que consegue captar os mais insignificantes tremores de terra.

Relativamente ao magnetómetro, é um aparelho capaz de distinguir entre alterações gerais e outras que são causadas pelos movimentos das placas terrestres.

Como referiu Vítor Hugo Forjaz, especialista em vulcanologia, e presidente da direcção do OVGA, a sala vai dispor, em breve, de sistemas de projecção e de uma zona de conferências, onde serão debatidos e mostrados os trabalhos efectuados por aquele observatório.

A riqueza dos Açores

Após a observação dos aparelhos, passa-se à sala onde estão expostos os vários minerais que confirmam a geodiversidade existente no Arquipélago.

Um magnífico corredor de lava – criado a partir de uma estrutura de metal gradeada que cobre um solo iluminado de vermelho, com paredes escuras e moldadas, que imitam na perfeição as de um vulcão –, conduz à secção das exposições.

Os “Minerais da Vida”

Pequenas mesas de pé, colocadas lado a lado ao longo das paredes, mostram os minerais que se podem encontrar nas Ilhas e os utensílios que a partir deles se formam para usar (ou embelezar) no quotidiano.

Aqui encontramos o quartz, um dos minerais mais vulgares e mais importantes para uso comum; a pirite, mais conhecida como ouro falso, e as micas. Também se podem observar os minerais utilizados em joalharia, como por exemplo a esmeralda, a granada e o ouro, bem como minerais com interesse comercial, como é o caso do flúor, do ferro, da malaquite, do gesso, tão correntemente usado por artistas, e do chumbo.

Para além de querer dar a conhecer o património minério que possui o Arquipélago, um dos objectivos do OVGA em expor estes minerais foi o de mostrar ao público o quão importante são no quotidiano, tanto a nível de bens necessários, como a nível económico e financeiro.


Milhares de anos de história

Ao fundo da sala, uma pequena plataforma oferece o desfrutar de milhares de anos de história geológica, e também biológica. Aqui pode observar-se o fóssil de um ninho de dinossauro encontrado na China, que é uma das peças mais valiosas do OVGA, bem como fósseis de antepassados de caracóis encontrados no meio das vegetações da Ilha de São Jorge, ou um dente de tubarão com 6 milhões de anos encontrado na costa da Ilha de Santa Maria. A exposição conta ainda com fósseis de várias espécies de peixes, e com a carapaça de uma craca com cerca de 5 mil anos

A visita a esta sala termina com o recair do olhar sobre os quadros que retratam um pouco da história geológica dos Açores: a erupção do Pico, em 1150, o grande terramoto em Vila Franca do Campo, em 1522, a erupção nas Furnas, em 1630, e uma ilustração de uma erupção na Lagoa do Fogo, são alguns dos temas que figuram de forma colorida e real nas molduras penduradas.


Ciências e Linguagens Científicas

O grego na origem do vocabulário científico

A língua grega está na base de muitos dos vocábulos utilizados nas linguagens científicas, como é o caso da vulcanologia, da geologia ou da sismologia. Grande parte das palavras que correntemente se usam para designar os mais variados acontecimentos tem uma ligação etimológica com o grego, e, em alguns casos, com o latim.

Por exemplo, a palavra geotermia é composta pelos termos gregos geos (terra), e thermos (quente). Sismologia deriva das palavras seismos (terramoto ou sismo) e de logia, logos (ramo do conhecimento), e geologia de geos (terra) e logia, logos (ramo do conhecimento).

Quanto à palavra sismómetro, deriva de seismos (sismo ou terramoto) e de motron, que significa medição. Sismograma tem o mesmo radical mas termina com outra palavra grega, grammon, que significa abalo ou linha.

Assim sendo, também outros termos associados a ocorrências sismológicas estão ligados ao grego, como é o caso de epicentro e hipocentro: centro deriva do grego kentres (centro ou local), o prefixo epi significa “por cima”, e hipo significa “debaixo”.

Já a palavra vulcão deriva do nome do deus romano do fogo, Vulcano, e Tsunami de uma expressão japonesa que significa “grande onda de porto”.


Linguagens científicas no quotidiano das gentes

A toponímia açoriana está em grande parte relacionada com termos vulcanológicos e geológicos. Nomes dados a freguesias, zonas balneares, zonas piscatórias, zonas de moradia junto à costa ou numa extensão plana, estão normalmente ligados à história das Ilhas: “Lajedo”, “Biscoitos”, “Lajes”, “Achada”, “Chã”, “Mistério”, entre outros.

No caso de “Fajã”, toponímia muito comum em qualquer Ilha dos Açores, designa um sítio que se encontra junto ao mar (“Fajã de Talude”), ou um sítio originado de outra forma, normalmente por erupção vulcânica (“Fajã Lávica”). Quando não é “Fajã”, dá-se o nome de “Achada”, porque é plana mas não está junto ao mar.


Curiosidades

O OVGA editou recentemente um catálogo onde apresenta toda a informação sismológica e vulcanologica dos Açores. No “Catálogo Sísmico da Região dos Açores”, podemos encontrar todos os dados referentes à actividade sísmica das Ilhas dos Açores: abalos, sismos, terramotos, erupções, ocorridos entre os finais do século XIX e finais do século XX.

Tipos de Erupção

Na vulcanologia, os vulcões tomam o nome da primeira designação. Existem vários tipos de erupção: “Havaiana”, que surgiu no Havai; “Estromboliana”, “Vulcaniana”, “Peliana”. Recentemente, surgiu um novo tipo de erupção: a “Serretiana”, uma nova designação que surge de uma erupção totalmente diferente de todas as outras existentes, registada junto à costa da freguesia da Serreta, na Ilha Terceira, Açores.


Visita de Estudo

No passado dia 19 de Abril (2005), a turma de Comunicação Social e Cultura da Universidade dos Açores efectuou uma visita de estudo ao Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores (OVGA).
Integrada na disciplina de Cultura e Linguagens Cientificas, e organizada pelo docente dessa mesma disciplina, Professor Doutor António Machado Pires, a ideia da visita surgiu após uma aula sobre essas mesmas linguagens científicas – que teve como orador convidado o vulcanólogo e director do OVGA, Doutor Victor Hugo Forjaz –, e teve como principal objectivo o contacto com as várias linguagens cientificas relacionadas com o estudo da terra – vulcanologia, geotermia, sismologia, meteorologia.
Os alunos tiveram oportunidade de conhecer ao pormenor todos os materiais expostos no Observatório e toda a história geológica e vulcanológica das Ilhas.


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